Uma história de amor que transformou vidas e inspirou o Brasil
Em 1955, Lucy da Silva Pinto era uma das quatro professoras enviadas pela Secretaria de Educação para a Pestalozzi
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Esta história nasceu de um sonho que virou referência nacional. Em 3 de dezembro de 1948, enquanto o Brasil vivia intensas transformações políticas e sociais e a uma semana das Nações Unidas proclamarem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um grupo de médicos, educadores e personalidades de Niterói se reuniu para plantar a semente de uma instituição que mudaria para sempre o cenário da inclusão no país. Inspirados pela filosofia de Johann Heinrich Pestalozzi e pelo trabalho inovador de Helena Antipoff, fundaram a Sociedade Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro, terceira do gênero no Brasil.
O livro “50 anos de vida – Uma história de amor”, escrito pelo jornalista Gilberto Fontes em 1998 destaca como o início da instituição foi marcado por desafios. Diante de poucos recursos, era preciso convencer a sociedade sobre a importância de garantir educação e cidadania para crianças com deficiência intelectual. A primeira sede, a emblemática “Escola-Granja” na Fazenda dos Ingleses, em Pendotiba, unia ensino, atividades agrícolas e oficinas, promovendo autonomia e dignidade aos alunos. O caminho até lá era difícil, literalmente: professoras e funcionários enfrentavam estradas de terra, lama e poeira, movidos pelo amor ao próximo.
Superação, voluntariado e crescimento
O livro revela episódios emocionantes, como a luta diária para alimentar os internos, a busca incansável por doações e o voluntarismo de professoras que, além de ensinar, lavavam louça, cuidavam das crianças e organizavam campanhas beneficentes. A instituição sobreviveu a crises financeiras, denúncias de abandono e até disputas políticas internas, mas nunca perdeu seu propósito.
A chegada de Lizair de Moraes Guarino à presidência, nos anos 1960, marca um divisor de águas. Com energia, visão administrativa e sensibilidade social, Lizair modernizou a gestão, buscou recursos, ampliou parcerias e profissionalizou o atendimento. Sob sua liderança, a Pestalozzi deixou de ser apenas um abrigo para se tornar um centro de referência em educação especial, saúde e reabilitação.
Ao longo das décadas, a Pestalozzi de Niterói expandiu suas frentes de atuação. Criou oficinas pedagógicas, projetos de inserção no mercado de trabalho, programas de apoio às famílias e centros de saúde multidisciplinares. Tornou-se polo irradiador de conhecimento, formando profissionais e influenciando políticas públicas em todo o país.
Uma história de amor e cidadania
A trajetória da Pestalozzi de Niterói é, acima de tudo, uma história de amor, dedicação e luta pela cidadania plena. A instituição sobreviveu e cresceu graças ao trabalho apaixonado de pessoas que acreditaram no potencial de cada ser humano, independentemente de suas limitações.
O símbolo da Pestalozzi, uma rosa protegida por mãos, foi desenhado pelo psiquiatra e artista plástico Ayrton Seixas, tornando-se marca registrada de mais de 200 unidades Pestalozzi no Brasil. Em 1960, Seixas foi o primeiro diretor médico e depois vice-presidente da Pestalozzi.
Hoje, a pedagoga Jussara Silva Freitas preside a instituição onde trabalhou por mais de 30 anos. Ao celebrar 77 anos, a Pestalozzi reafirma seu compromisso com a inclusão, a valorização da diversidade e a construção de uma sociedade mais justa.
De uma pequena escola rural à instituição moderna que atende milhares de pessoas, a Pestalozzi de Niterói é exemplo vivo de que sonhos, quando regados com amor e perseverança, podem transformar realidades e inspirar gerações.